Muito se discute do uso dos videogames e suas influências sobre a saúde dos jogadores. Por muito tempo foi pensado que eles faziam mal à saúde, e muitos até pensavam que deixavam as crianças mais “burras”.
Porém, pesquisas inovadoras da área das Neurociências revelam que o uso regular de jogos eletrônicos possui vários efeitos positivos sobre o cérebro de quem joga, seja ele criança, adolescente, adulto ou idoso.
Já não é novidade para ninguém que os games são a forma de entretenimento que mais cresce financeiramente a cada ano. Isso se deve, entre várias influências, ao fato de, atualmente, qualquer faixa etária jogar videogame.
Essa nova prática não passaria sem causar alguma influência no nosso corpo, e, dessa forma, não deixaria de ser estudada pela ciência da mente e do cérebro.
Habilidades envolvendo criatividade, tomada de decisão e o uso da percepção são alguns dos aparatos da nossa mente que são mais estimulados quando estamos jogando games e, além disso, a própria arquitetura cerebral tem se modificado com o uso deles.
Vamos apresentar aqui algumas pesquisas e constatações de onde, quando e como os videogames podem ser ótimas formas de exercitar a mente e trazer bem-estar para você, seus pais e seus filhos.
Neuroplas… o quê?
Quando os videogames migraram dos arcades para a sala de estar das famílias, o número de horas que jovens passavam jogando começou a aumentar consideravelmente.
Afinal, o que antes demandava deles dinheiro constante e deslocamento trabalhoso, agora estava lá, ligado na sua própria televisão 24 horas por dia (contanto que seus pais permitissem).
Com isso, um novo tipo de jogo começou a fazer sucesso e o primeiro passo foi dado com o boom de Super Mario Bros. (NES).
O jogo da Nintendo trouxe como inovação a exploração de um ambiente 2D com um grau de interatividade até então nunca antes visto. Só aí, a relação dos jogadores com o real e o virtual passou a se tornar cada vez mais íntima.
Vários anos depois, o Nintendo 64 e o PlayStation da Sony deram o próximo passo no quesito interatividade, introduzindo o jogador em um mundo de 3 dimensões. Aquilo que era completamente linear antes, agora se tornava muito mais complexo e com possibilidades impossíveis para as gerações anteriores de consoles.
Dessa forma, determinadas habilidades cerebrais que utilizamos todos os dias sem perceber começaram a ser utilizadas de forma muito mais específica.
Noção de profundidade, resolução de problemas complexos, perspectiva linear de eventos e até a nossa noção de previsibilidade começaram a ser mais estimuladas pelos games. Isso aconteceu (e acontece até hoje) devido a uma habilidade evolutiva do nosso cérebro incrível: a Neuroplasticidade.
A Neuroplasticidade é a habilidade que o nosso cérebro possui de se modificar adaptando-se às influências e estímulos externos a ele. Esses estímulos incluem desde traumatismos, doenças e traumas emocionais, até eventos cotidianos, prática de esportes, e, é claro, jogar videogames.
A Neuroplasticidade é uma espécie de defesa do nosso cérebro contra as influências externas, sendo assim, pode ter resultados tanto positivos quanto negativos em nossas vidas.
Mario e o desenvolvimento do nosso cérebro
O Instituto para o Desenvolvimento Humano Max Planck e a Charité University Medicine St. Hedwig-Krankenhaus, da Alemanha, fizeram um estudo em parceria em 2013 em que pesquisadores convidaram adultos para jogarem Super Mario 64 (N64) por um total de dois meses, 30 minutos por dia.
Enquanto isso, outro grupo de adultos foi usado como “grupo controle” e não jogaram nenhum tipo de videogame durante o mesmo período de tempo.
Após o término do estudo, usaram uma aparelhagem de varredura cerebral moderna (Ressonância Magnética Funcional) para constatar que o volume de massa cinzenta do cérebro daqueles que jogaram 30 minutos por dia durante os dois meses aumentou em comparação ao seu tamanho antes da jogatina controlada.
Enquanto isso, os adultos que não jogaram nada não apresentaram modificações drásticas na sua estrutura cerebral.
A substância cinzenta, no caso, seriam as regiões do cérebro onde são aglomerados os corpos das células nervosas (a mais conhecida delas é o neurônio). Essas regiões possuem grande importância no controle muscular, percepção, fala, emoções e memória.
Mais especificamente, neste estudo, as regiões cerebrais que apresentaram um aumento significativo da sua massa estavam atreladas à navegação espacial, formação de memória, planejamento estratégico e comando de habilidades motoras finas (como o uso complexo dos dedos ao utilizar um controle de videogame).
Mas isso não quer dizer simplesmente que todos nós deveríamos jogar 30 minutos de algum game por dia. Um dos fatos mais interessantes constatados por essa pesquisa foi que esse aumento da massa encefálica só ocorre quando a pessoa que joga aparenta realmente um desejo por jogar videogames.
O que parece bem lógico, pois o envolvimento com o jogo se dá por meio da dedicação e abertura do jogador para tal.
É só cada um de nós lembrar de alguma vez que tentamos a todo custo jogar algo que não gostávamos e a dificuldade que tínhamos em se envolver com a coisa.
Depois desses resultados, os autores da pesquisa avaliam o caso de utilizar jogos de videogame para auxiliar no tratamento e na prevenção de doenças cerebrais graves como o Alzheimer, a Esquizofrenia e o Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT).
Simone Kuhn, uma das autoras do trabalho, acredita que os videogames seriam uma forma mais atraente dos pacientes aderirem ao tratamento, possibilitando maiores chances de cura ou recuperação.