O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um termo guarda-chuva que se refere a diversas condições caracterizadas por déficits na comunicação, interação social e linguagem não verbal.
Ao longo dos anos, parece que houve uma explosão de número de casos de TEA. De acordo com dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), uma em cada 160 crianças são diagnosticas com TEA. O aumento de número de casos pode ser explicado pelo aprimoramento do diagnóstico.
A elevação do índice de crianças diagnosticadas com autismo não tem relação com um suposto fator responsável por causar esse transtorno do neurodesenvolvimento, como muitos costumam pensar.
À medida que mais pesquisas sobre o transtorno do espectro do autismo foram efetuadas, critérios diagnósticos mais precisos foram definidos.
O que é TEA?
O transtorno do espectro autista, popularmente conhecido como autismo, é um distúrbio do neurodesenvolvimento.
Ele tem início nos primeiros anos da infância e persiste na adolescência e vida adulta, embora seus sintomas possam reduzir de modo considerável mediante tratamento.
Cada pessoa com TEA apresenta um diagnóstico singular, ou seja, não é possível colocar todas na mesma caixa.
Algumas pessoas conseguem ter vidas funcionais e estudar, trabalhar e se relacionar. Já outras têm muita dificuldade para interagir com as pessoas e o mundo à sua volta, necessitando de cuidados ao longo da vida.
Além disso, o nível de funcionamento intelectual vai desde deficiência profunda até habilidades cognitivas não verbais superiores.
Infelizmente, crianças com TEA ainda estão sujeitas a sofrer discriminação tanto de adultos quanto de coleguinhas na escola ou parentes por terem comportamentos diferentes dos considerados habituais.
A mesma estigmatização persegue jovens e adultos com essa condição.
Também já foram registrados casos de tratamento inadequado por parte da instituição de ensino. A escola não soube responder ao jeito de agir dos estudantes com transtorno do espectro autista, classificando-o como “má criação”.
Quais são os sintomas do TEA?
Segundo o DSM V, os sintomas do transtorno do espectro autista se modificam com o desenvolvimento. Essa característica requer atenção redobrada do profissional – médico ou psicólogo – para fazer o diagnóstico correto.
Aliás, o diagnóstico precoce é muito importante. Quando o transtorno autista é detectado ainda na primeira infância (até os 6 anos), o tratamento ocorre com maior facilidade, ocasionando uma melhora substancial das habilidades sociais da criança autista.
O autismo não tem cura, então o tratamento tem como intuito viabilizar a inserção social dos indivíduos e desenvolver a autonomia. Dessa maneira, pessoas autistas podem levar vidas independentes e satisfatórias!
Em seguida, vamos discorrer sobre cada sintoma do TEA em detalhes.
Déficits na comunicação
Um dos sintomas mais notórios é o atraso da fala. Muitos pais começam a cogitar a possibilidade de os filhos estarem no espectro autista quando eles demoram muito para falar ou falam pouco para a sua faixa etária.
Essa percepção normalmente acontece entre o primeiro e segundo ano de vida da criança, quando a exigência da comunicação verbal e interações sociais no cotidiano cresce.
Déficits nas interações sociais
Quando a criança começa a se comunicar de fato, a sua maneira de se expressar é um tanto diferente. Pessoas autistas possuem dificuldade para compreender tons de brincadeira na fala, sarcasmo, expressões típicas e hipérboles.
Sendo assim, interpretam e se expressam de forma mais literal. É por essa razão que às vezes podem dizer coisas consideradas inapropriadas para o contexto social, ou magoar os sentimentos das pessoas sem ter essa intenção.
O mesmo se aplica à compreensão de expressões faciais e linguagem corporal. Pessoas com transtorno de espectro de autismo têm dificuldade para interpretar raiva, tristeza, desânimo e tédio no rosto dos outros. A sua leitura de situações sociais costuma ser diferente de com quem ela está interagindo.
Além disso, muitas pessoas autistas apresentam ausência de sorriso social (sorriso involuntário, ou retribuído quando alguém sorri para você) e baixo contato visual. Quem desconhece essas características do autismo pode considerá-las rudes.
Comportamentos repetitivos e rígidos
Pessoas com transtorno do espectro autista expressam alguns comportamentos repetitivos, os quais se modificam conforme a idade.
Crianças e jovens costumam chacoalhar seus corpos para frente e para trás, fazer movimentos com as mãos, organizar brinquedos, roupas e objetos pessoais metodicamente e repetir palavras fora de contexto. Adultos também podem ter esses comportamentos, mas de modo reduzido e menos emocional.
Pessoas autistas também insistem nas mesmas coisas, sendo inflexíveis a mudanças na rotina e rituais familiares. Por exemplo, se a família celebra o Natal de uma forma específica, elas esperam que esse ritual seja mantido todos os anos.
Esses padrões rígidos de pensamento e comportamento podem causar muita confusão em momentos sociais, especialmente quando confrontados com normas sociais cujo propósito não parecem claros.
Interesses restritos
Interesses restritos constituem interesses específicos e praticamente imutáveis por um objeto. Esse pode ser brinquedos, animais, eventos históricos, meios de transporte, peças de roupas, períodos históricos, personagens de filmes ou desenhos, celebridades, entre outros.
A pessoa no espectro autista costuma carregar esse interesse específico para o resto da vida. Ela pode fazer coleções desses objetos, organizando-os metodicamente em pastas, arquivos, prateleiras e armários.
Ela também busca conhecimento sobre o objeto ou tema de seu interesse de modo incessante, memorizando detalhes específicos os quais são abordados em longas conversas.
Dificuldade para processar estímulos sensoriais
Muitas pessoas com TEA são sensíveis a estímulos sensoriais, como cores ofuscantes, luzes brilhantes, mudanças drásticas na temperatura e sons altos.
Ao se depararem com esses fatores, ficam sobrecarregadas e precisam de um tempo para recobrarem a calma. Alguns indivíduos, por outro lado, podem ter fascínio por algum desses elementos ou são indiferentes a eles.
Causas do autismo
É difícil dizer exatamente o que causa o autismo. Evidências cientificas indicam a possibilidade de uma combinação de fatores genéticos e ambientais como a possível causa do transtorno.
Algumas teorias apontam para a correlação entre o TEA e a exposição a agentes químicos, deficiência de vitamina D e ácido fólico, infecções e uso de substâncias durante a gestação e prematuridade (período abaixo das 35 semanas gestacionais).
Há uma reincidência maior de casos de autismo em homens do que mulheres. Diversas pesquisas sugerem uma maior vulnerabilidade do sexo masculino a transtornos neurológicos, como TEA e transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Segundo algumas teorias, o cérebro das mulheres precisa passar por mutações genéticas mais extremas do que o dos homens para desenvolver esses distúrbios. Entretanto, não se sabe ao certo quão verdadeira é essa afirmação.
Tratamentos para o TEA
O tratamento para o transtorno do espectro autista é feito de maneira multidisciplinar. Isto é, com o auxílio de uma gama de profissionais da saúde.
Psicólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, fisioterapeutas, pedagogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e nutricionistas são alguns deles.
Veja em seguida a atuação de algumas dessas áreas no tratamento do autismo.
Psicoterapia aplicada ao autismo: Tem o objetivo de estimular comportamentos sociais, incentivar a leitura e escrita, reforçar a necessidade de concluir afazeres diários e minimizar comportamentos disfuncionais, como agressões físicas e verbais e autolesões.
Terapia ocupacional aplicada ao autismo: Promove a coordenação motora e equilíbrio através de ações repetitivas típicas do dia a dia, como se sentar e se levantar, escrever com lápis e andar de bicicleta. Estimula, ainda, a autonomia por meio da realização de atividades cotidianas, como pentear os cabelos, organizar materiais escolares, vestir-se e comer sozinho.
Fonoaudiologia aplicada ao autismo: Incentiva o desenvolvimento da linguagem verbal. As habilidades já adquiridas são avaliadas para criar um plano de tratamento conforme as necessidades linguísticas e comunicativas dos indivíduos.
Fisioterapia aplicada ao autismo: Desenvolve as habilidades motoras e funções básicas, como sentar, andar, correr, manusear objetos e andar, além de aprimorar a coordenação motora e força muscular.
Nutrição aplicada ao autismo: Pessoas com TEA tende a ter hábitos alimentares restritos por não gostarem do sabor, cheiro, textura ou som de determinados alimentos. Desse modo, precisam seguir uma dieta específica para adquirir todos os nutrientes e vitaminas necessários através dos alimentos.
A família também pode achar o acolhimento psicológico necessário. Aceitar o diagnóstico do transtorno do espectro autista e aprender a lidar com os sintomas não acontece de uma hora para outra. Pais e outros familiares podem se beneficiar da psicoterapia para aceitarem a situação.
Procure entender o TEA!
Apesar das dificuldades associadas ao neurodesenvolvimento, muitas pessoas com transtorno do espectro autista querem levar uma vida agradável, realizar sonhos, encontrar o amor, trabalhar e conquistar a sua individualidade.
Quem não está no espectro autista pode ter dificuldade para compreender as particularidades dos comportamentos e modo de pensar das pessoas com TEA.
Uma série bem interessante para esse propósito é a “O Amor no Espectro”, disponível atualmente na Netflix. Ela acompanha diversos jovens autistas na busca por um relacionamento e retrata com excelência os desafios de ter um transtorno de neurodesenvolvimento, bem como as vitórias, personalidade e desejos de cada participante.
Ao longo dos episódios, conseguimos entender um pouco da maneira como as pessoas com TEA interagem com o mundo e os indivíduos com quem convivem.