Em meio a um longo período de pandemia, muitas pessoas passaram a olhar para o seu lar com mais atenção.
O lar se tornou um refúgio para o bem-estar físico e mental, e sua funcionalidade e estética uniram-se a novos hábitos cotidianos para redefinir os conceitos do que é “Sentir-se em casa”.
“Foi natural os consumidores passarem a projetar os seus espaços e criar rituais diários como uma extensão do autocuidado.”, diz Mirela Dufrayer, líder de marketing na WGSN América Latina, empresa de previsão de tendências de comportamento e de consumo.
Regar as plantas, preparar um chá ou passar um bom tempo na cozinha são só alguns dos muitos exemplos de rituais cotidianos.
“Entendo o lar como local para acomodar a vida. Todas as atividades que desenvolvemos em casa podem ser encaradas como rituais.”, define a arquitetaFernanda Ness, do escritório Arqsimplifica.
A profissional compartilha da ideia de que os projetos arquitetônicos devem começar pelo final, ou seja, primeiro é necessário conhecer as experiências que os moradores buscam viver naquele espaço.
“Nós, arquitetos(as), aprendemos a interagir com os vazios do espaço físico e da intimidade das pessoas. É um processo muito mais interno do que material.”, acrescenta Fernanda.
Para isso, o passo inicial é criar uma relação com os moradores que vá além dos requisitos práticos que eles reivindicam.
“Para conseguirmos chegar na essência do projeto e do cotidiano das pessoas, sugerimos alguns exercícios durante o processo. Pedimos que, além de descrever as ‘cenas’ que a casa poderá proporcionar, os moradores façam um tour pelo espaço que ainda não existe.”, comenta a arquiteta. É nesse momento que o projeto nasce, segundo ela.
A especialista também tem seus próprios rituais e garante que isso contribui para o desenvolvimento de seu trabalho.
“Em um momento tão tecnológico, colocar um vinil para tocar e passar um café é libertador no meu cotidiano.”, compartilha.
“O meu ritual favorito é pegar um café, abrir a janela e ver a vida acontecendo lá fora. Prefiro a relação direta com a cidade do que a vista exuberante.”
Segundo a chefe de marketing da WGSN, um dos rituais que ganharam bastante destaque nos últimos tempos foram os banhos e sua preparação: seja com cheiros e luzes, seja com sons.
A partir das mudanças trazidas pelo Covid-19, é papel da arquitetura e do design abrir caminho a experiências que possam recriar confortos antes conhecidos em qualquer ambiente, sugere Mirela.
“O uso de materiais curativos e táteis, cores que estimulam o humor e texturas terrosas serão aliados para nos ajudar a conectar de volta à natureza e aos rituais antigos e holísticos.”, aponta.