A grande discussão sobre os efeitos da automação e da inteligência artificial (IA) tem girado no aumento da produtividade e na redução de custos para as empresas.
Mas, há uma terceira dimensão que não deve ser deixada de lado: o impacto das novas tecnologias sobre o bem-estar das pessoas.
Historicamente, inovações tecnológicas geram efeitos positivos para o bem-estar, além do aumento do PIB.
Vacinas, novos medicamentos e inovações médicas, como raios-X e ressonância magnética, melhoraram muito a saúde humana e aumentaram a nossa longevidade.
A questão é: Será que os todos esses benefícios irão compensar o receio do desemprego tecnológico? E se o avanço das tecnologias continuar criando novas fontes de estresse, prejudicando a confiança e os gastos do consumidor.
Antes de procurarmos responder a essas questões, devemos nos concentrar em dois fatores decisivos. O primeiro é o potencial que a inovação tem para melhorar nosso bem-estar.
A IA, em particular, poderá aumentar substancialmente a qualidade de vida das pessoas, aumentando a produtividade, gerando novos produtos e serviços e abrindo novos mercados.
Pesquisa da McKinsey & Company sobre a transformação digital, constata que aplicativos baseados em IA já estão fazendo exatamente isso e irão continuar fazendo.
Além disso, empresas que implantam a IA com o propósito de impulsionar a inovação, em vez de simplesmente buscar substituir sua força de trabalho e/ou reduzir custos, provavelmente serão as mais bem-sucedidas.
À medida que crescem, estas organizações contratam novos colaboradores. Nos serviços de saúde, por exemplo, a IA possibilita que profissionais ofereçam diagnósticos mais precoces de doenças potencialmente fatais, como o câncer, bem como tratamentos personalizados.
O segundo fator decisivo é a abordagem adotada por empresas e governos para administrar a chegada das novas tecnologias.
A IA levanta questões éticas importantes, particularmente em áreas como a genômica e uso de dados pessoais. A própria necessidade de desenvolver novas habilidades para utilizar máquinas inteligentes pode causar estresse e insatisfação.
A migração de profissionais entre setores pode ser outra fonte significativa de estresse, exacerbada por incompatibilidades setoriais e restrições de mobilidade.
Os impactos das tecnologias emergentes no mercado de trabalho podem afetar segmentos da população que antes eram imunes a tais riscos.
Para evitar conturbações mais sérias, formuladores de políticas já deveriam estar focando em desenvolver, em larga escala, habilidades “à prova de robôs” para garantir a fluidez do mercado de trabalho.
Jacques Bughin, diretor da McKinsey Global Institute e Christopher Pissarides, Prêmio Nobel de Economia (2010) e professor na London School of Economics, defendem que ao priorizar a implantação de novas tecnologias que possibilitem a inovação, mas que também melhorem o bem-estar das pessoas, e ao gerenciar os efeitos da difusão tecnológica no mercado de trabalho, pode-se impulsionar não apenas a produtividade e a renda, mas também a expectativa de vida, o que pode contribuir para um PIB mais alto.
Calcular os efeitos prováveis da inovação que melhorem o bem-estar é um processo complexo.
Bughin e Pissarides construíram métodos de quantificação do bem-estar desenvolvidos pelos economistas Charles Jones e Peter Klenow, da Universidade de Stanford.
Usando um modelo de aversão ao risco como referência, eles descobriram que os Estados Unidos e a Europa poderiam experimentar um aumento no bem-estar com a adoção da IA e outras tecnologias de ponta que excederiam os ganhos com o advento dos computadores e outras formas de automação nas últimas décadas.
Por outro lado, se a transição tecnológica não for gerenciada adequadamente, EUA e Europa poderão experimentar um crescimento mais lento da renda, aumento da desigualdade e do desemprego e declínios no lazer, na saúde e na longevidade.
Uma descoberta reveladora da pesquisa de Bughin e Pissarides é que a ameaça à renda e ao emprego está presente em todos os cenários prováveis, o que significa que essa ameaça não pode ser descartada ou ignorada.
Entre outras coisas, Bughin e Pissarides acreditam os governos hoje têm um papel crítico na oferta de educação e no redesenho de currículos para desenvolver habilidades técnicas e alfabetização digital:
“Se as empresas adotarem uma abordagem de “responsabilidade socio-tecnológica” em relação à IA e à automação, elas poderão gerar benefícios tanto para a sociedade quanto para seus próprios resultados. Profissionais mais produtivos, podem receber salários mais altos, aumentando assim a demanda por produtos e serviços. Para aproveitar os benefícios de longo alcance que tecnologias digitais, IA e automação desencadeiam, precisaremos encontrar um equilíbrio cuidadoso, promovendo tanto a inovação quanto as habilidades.”