Como o nome já diz, a equoterapia é uma técnica que complementa outros tipos de tratamentos, como a terapia ocupacional.
Ou seja, é método terapêutico que se utiliza de cavalos para ajudar na reabilitação de pessoas com algum tipo de deficiência, seja física, seja psicológica ou cognitiva.
Na prática, ela estimula a mente e o corpo por meio do andar do cavalo, que faz movimentos tridimensionais ou em três eixos: para cima e para baixo, para um lado e para o outro, para frente e para trás.
Esses estímulos ritmados provocam uma série de reações no corpo do cavaleiro. O paciente é levado a contrair e relaxar as pernas e o tronco, melhorando suas percepções, funções motoras e, principalmente, o equilíbrio.
Como e onde surgiu?
A técnica foi reconhecida em 1997 pelo Conselho Federal de Medicina, mas existe há muito mais tempo. Há registros de que os cavalos eram usados em tratamentos terapêuticos há mais de dois mil anos na Grécia Antiga.
Tanto que Hipócrates — considerado o pai da medicina — refere-se à prática em seu livro “Das Dietas” como um fator regenerador da saúde.
Na Era moderna, a equoterapia se tornou mais popular após a Primeira Guerra Mundial. Os soldados que voltavam da guerra com sequelas físicas e mentais eram colocados para cavalgar, devido ao grande número de animais disponível.
A partir de então, eles passaram a apresentar melhoras em todos os aspectos.
Porém, a equoterapia só começou a fazer parte de estudos acadêmicos mais tarde. Foi só então que surgiu o primeiro centro de equitação para pessoas com deficiência, em 1967, nos Estados Unidos.
No Brasil, o método passou a ser valorizado a partir de 1989, em Brasília. Atualmente, a técnica terapêutica é praticada em mais de 30 países.
Para quem a terapia é indicada?
A equoterapia pode ser praticada por qualquer pessoa, de qualquer idade. Ou seja, crianças, jovens, adultos e idosos podem ser praticantes da equoterapia.
Sobretudo, ela pode ser uma terapia complementar muito importante em casos como: Síndrome de Down; Paralisia cerebral; Esclerose múltipla; Sequelas de acidentes e cirurgias; Doenças genéticas, ortopédicas e musculares; Acidente vascular cerebral (AVC); Trauma crâneo-encefálico; Atraso maturativo; Autismo; Falta de coordenação motora; Deficiência visual; Deficiência auditiva; Etc.
Importância da equoterapia para pessoas com deficiência
Subir no animal, segurar e guiar as rédeas, e manter o equilíbrio são atividades capazes de surtir efeitos muito positivos para o cotidiano de qualquer pessoa. E quando se trata de alguma deficiência, esses benefícios são ainda mais perceptíveis.
A equoterapia é um dos principais tratamentos de reabilitação para pessoas com limitações físicas ou mentais. Isso porque ela consegue alcançar excelentes resultados com problemas relacionados aos movimentos dos quadris e coluna vertebral, assim como no desenvolvimento da fala, socialização e até mesmo autoconfiança.
Quer um exemplo? Quando submetidas ao tratamento, pessoas com autismo podem aprender a conviver melhor com outros indivíduos, melhorar a comunicação, diminuir a agressividade e até se tornarem mais independentes.
Já pacientes com alguma deficiência física conseguem ter mais firmeza e equilíbrio nos movimentos, melhor a postura, tonificar a musculatura e quem sabe até deixar de lado muletas e andadores. Isso sem falar nos sentimentos de liberdade e bem-estar proporcionados pela montaria.
Quais são os benefícios da equoterapia para a pessoa com deficiência?
Os benefícios são inúmeros. É possível notar avanços físicos, psicológicos e cognitivos. Entenda melhor cada um deles!
Benefícios físicos
Enquanto o paciente monta, precisa adaptar constantemente seu equilíbrio, fortalecendo assim a musculatura e a coordenação.
Além disso, seu metabolismo é estimulado, melhorando o sistema cardiovascular. Nesse momento, até mesmo a respiração é trabalhada, influenciando a fala e a pronúncia das palavras.
Outro fator interessante é que a marcha do cavalo simula o andar de uma pessoa. Esses movimentos tridimensionais do dorso do animal transmitem impulsos e imagens cerebrais capazes de auxiliar o aprendizado do paciente.
Imagine uma pessoa que ficou muito tempo sem andar e agora precisa reaprender como se faz. Ela perdeu estímulos importantes e, nesse caso, o cavalo é como se fosse uma máquina capaz de ensinar a forma correta de fazer os movimentos. É como se o animal emprestasse suas pernas ao paciente e o ensinasse a reordenar seus impulsos.
Benefícios mentais
Ao subir em um cavalo, uma pessoa com deficiência percebe que é capaz de superar seus medos. Ela passa a enxergar a vida de outro ângulo.
É possível, então, notar melhoras na autoestima, autoconfiança e uma maior independência. Durante as sessões, o terapeuta também consegue trabalhar o tato, a orientação espacial, memória, raciocínio, percepção visual e auditiva.
O contato com a natureza ainda estimula a concentração, a socialização, contribui para a diminuição da agressividade e promove uma sensação de bem-estar.
O paciente consegue compreender melhor os padrões de comportamento, aceitar regras e limitações. Nesse ambiente, o envolvimento com a atividade se torna maior, facilitando os exercícios e potencializando os resultados.
Veja, portanto, alguns dos demais benefícios da equoterapia:
- Melhorias nas habilidades motoras;
- Maior tonicidade e força muscular;
- Melhora na postura;
- Maior equilíbrio;
- Noção de espaço;
- Desenvolvimento da psicomotricidade;
- Melhorias na voz e na pronúncia das palavras;
- Controle da ansiedade;
- Melhora no desempenho em sala de aula.
Qual o preparo necessário para fazer a equoterapia?
Antes de iniciar o tratamento, o paciente deve passar por diversos profissionais, como pedagogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos e profissionais de equitação.
Somente após uma avaliação criteriosa, é elaborado um programa personalizado de reabilitação. Como cada pessoa tem necessidades específicas, a Associação Nacional de Equoterapia criou quatro programas diferentes — um para cada tipo de praticante.
1. Hipoterapia
A modalidade é indicada para o paciente que não tem condições físicas ou mentais para se manter sozinho no cavalo.
Nesse caso, dependendo da necessidade, pode-se ter um auxiliar para montar junto com o praticante e guiar o animal, assim como um auxiliar lateral, para ajudar a mantê-lo montado. Normalmente, os exercícios são selecionados e orientados de perto pelo terapeuta.
2. Educação/Reeducação
Foi desenvolvida para pacientes que têm um pouco mais de independência, porém, ainda necessitam de auxílio, seja de um guia lateral, seja de um guia-auxiliar.
Outra diferença é que, apesar de os exercícios serem estruturados por uma equipe de profissionais, os professores de equitação atuam com mais intensidade. Porém, o cavalo continua sendo um instrumento pedagógico e não de hipismo.
3. Pré-esportivo
Neste programa, o praticante tem maior autonomia sobre o animal. Ele é capaz de guiá-lo sozinho, porém, não tem experiência com equitação.
Aqui, o paciente já pode, inclusive, participar de alguns exercícios específicos de hipismo, com orientação de profissionais da saúde e educação. O cavalo passa a ser usado também como um instrumento de inserção social.
4. Prática Esportiva Paraequestre
Nessa modalidade, os praticantes já são experientes e podem ser preparados para algumas provas, levando sempre em conta o prazer do esporte, os benefícios enquanto uma técnica terapêutica, a melhora da qualidade de vida e inserção social.
A partir dessa etapa, os pacientes participam de competições paraequestres como o hipismo adaptado, paralimpíada, e olimpíadas especiais.
Qual o passo a passo de uma sessão de equoterapia?
As sessões podem variar de acordo com cada centro de equoterapia, porém, em geral, elas acontecem uma vez por semana e duram cerca de meia hora.
- Ao chegar no centro, o paciente participa do manejo, ou seja, dos cuidados com o animal, como alimentação e higiene. Isso é importante para criar uma maior aproximação, empatia e confiança entre o cavalo e o praticante. Além disso, já nos primeiros minutos de contato com o animal, o corpo humano libera substâncias responsáveis por sensações de bem-estar e prazer;
- O próximo passo é preparar o cavalo para a montaria. Aqui, o paciente aprende a encilhá-lo e a montar. Quem não tem condições físicas de subir no animal sozinho, recebe o auxílio dos guias;
- A terceira etapa é um dos momentos mais importantes. É quando o paciente já está montado e começa a cavalgar. Nesse instante, o corpo humano recebe estímulos sensoriais do animal e começa a reorganizar seus movimentos por meio de um comportamento adaptativo.
Existe alguma contraindicação?
A maioria das pessoas pode realizar equoterapia, mas assim como em qualquer outro tratamento, cada caso deve ser analisado cuidadosamente.
Existem alguns pacientes que devem ter mais cuidado com a técnica. Os principais são aqueles que têm:
- Escoliose estrutural acima de 30 graus;
- Cardiopatia aguda;
- Hérnia de disco;
- Hidrocefalia com válvula;
- Alergia ao pelo do cavalo;
- Subluxação e luxação de ombro ou dos quadris.
Por isso, é de extrema importância que a terapia seja realizada apenas com pacientes que foram submetidos e aprovados em uma avaliação médica.
Qualquer cavalo pode ser usado na equoterapia?
Assim como existem limitações com pacientes, não é qualquer animal que pode ser usado para essa técnica. Não há uma raça definida, porém, o animal deve atender a alguns pré-requisitos.
Essas características são importantes para garantir a segurança do paciente e para que o tratamento não seja prejudicado.
Docilidade
Esse é um dos adjetivos mais importantes. O animal não pode se assustar com movimentos bruscos ou um toque mais forte, assim como gritos. Eles devem ser extremamente mansos.
Até porque, além de um método terapêutico, a equoterapia também é uma atividade lúdica, principalmente para crianças.
Elas participam de diversas atividades cotidianas do animal, como a alimentação, escovação e banho. A docilidade do cavalo também é uma importante ferramenta para acalmar o paciente.
Treinamento
Não basta apenas ser dócil. O animal precisa ser treinado e adestrado. Para contribuir de uma forma realmente eficaz com o tratamento, é indispensável que o cavalo consiga realizar movimentos como paradas e partidas precisas, passos pequenos ou grandes, sendo necessário ainda ter uma diversidade de trotes, impulsão e engajamento maior ou menor etc.
Estatura mediana
Como a maioria dos praticantes são crianças ou têm limitações físicas, é necessário que o animal não seja muito alto para não dificultar a montaria e garantir uma maior segurança contra quedas. O ideal é que a altura não ultrapasse 1,60 cm.
Estrutura do dorso
Cada cavalo tem uma estrutura diferente. Alguns tem o dorso mais largo, outros mais estreitos. São aspectos que influenciam diretamente o ângulo da abertura das pernas, o relaxamento e o conforto do praticante.
Regularidade na movimentação
O animal precisa ter um movimento tridimensional coerente e regular, assim como é importante estar atento ao tamanho das passadas e trotes.
Animais mais velhos, mancos ou com movimentos desiguais podem prejudicar o tratamento.
Saúde em dia
Vacinas, vermífugos, limpezas, banhos e alimentação devem estar sempre em dia. As condições de higiene em que são mantidos também devem ser impecáveis.
O objetivo é prevenir doenças nos animais e proteger os pacientes para que possam praticar a técnica terapêutica com o máximo de segurança.
Como lidar com o medo de cavalos?
Apesar de ser uma técnica extremamente benéfica, o medo ou receio de cair de um cavalo é bastante comum.
Afinal, trata-se de um animal grande e forte, capaz de intimidar qualquer pessoa. Porém, na maioria dos casos, esse medo é superado já nas primeiras aulas.
Mas, se o pavor é tão grande, a ponto de impedi-lo de fazer uma sessão, é bom descobrir se você sofre de algum tipo de fobia.
É importante estar atento, principalmente em relação às crianças. É fundamental não forçar o contato com o animal e buscar tratamento.
Uma das soluções é a psicoterapia. Em geral, o profissional ajuda o paciente a encontrar a causa do medo e, em seguida, trabalha a superação desse trauma.
Dicas para superar o medo
Existem algumas dicas simples que podem ajudar a superar o medo de cavalos e aproveitar todos os benefícios que a equoterapia pode oferecer. Veja quais são elas:
- Leia e aprenda sobre o animal. Descubra a melhor forma de lidar com ele e como funciona a montaria. Você ficará mais seguro e preparado para o próximo encontro;
- Veja fotos, assista a filmes e documentários relacionados a cavalos. As imagens são uma excelente forma de começar a lidar com o medo do animal. Quando o ver novamente, não sentirá tanto pavor;
- Antes de montar, visite um centro de equoterapia e peça para observar os animais de longe;
- Agende a próxima visita para poucos dias depois e aproveite para chegar mais perto. Se você se sentir confortável, tente fazer um carinho no animal;
- À medida que você se sentir mais à vontade, tente dar uma volta com ele. Caminhe lado a lado, apenas o guiando pelas rédeas. Aproveite o momento para conhecê-lo melhor. Observe seus movimentos e como ele reage a cada situação;
- O próximo passo, é tentar montá-lo. Nas primeiras vezes, faça isso no picadeiro e peça auxílio a um profissional. Você se sentirá muito mais seguro e confiante. Boa sorte!
Quais os principais centros de equoterapia no Brasil?
Depois de toda essa leitura, aumentou a vontade de praticar a montaria? Pois ainda temos algumas dicas. O sucesso de um tratamento depende muito do paciente, dos familiares e, em especial, do centro de equoterapia.
Atualmente, existem mais de 200 centros espalhados pelo Brasil, e, para não errar na escolha, é necessário conhecimento e informação. Então, preste atenção!
Como escolher o local ideal
Uma maneira de encontrar bons centros é buscando referências com os profissionais que atuam na reabilitação de pacientes, como médicos, fisioterapeutas e psicólogos.
Outra dica é fazer uma busca por meio do site da Associação Nacional de Equoterapia. É possível pesquisar por regiões e ter acesso a diversas informações sobre centros agregados, afiliados, ou mesmo sem vínculo com a entidade.
Depois de selecionar alguns, não deixe de visitar pessoalmente, bater um papo com os profissionais, observar as condições do local e, o mais importante, conversar com outros praticantes. É a melhor forma de descobrir se os serviços são realmente satisfatórios e minimizar as chances de arrependimento.
É indispensável também ter conhecimento em relação às exigências da Associação Nacional de Equoterapia, e observar se o centro atende a todas as normas. Por exemplo:
- Dispor de instalações físicas e equipamentos adequados aos pacientes;
- Contar com uma equipe multidisciplinar de profissionais como psicólogo, fisioterapeuta para pessoas com deficiência e profissionais de equitação;
- Todos os profissionais devem ser devidamente habilitados nos cursos da ANDE-BRASIL;
- Manter os animais saudáveis e treinados, especialmente para equoterapia;
- Oferecer acessibilidade, ou seja, ser adaptado para usuários de cadeiras de rodas, com rampas, barras de segurança e elevadores. Em caso de dúvida, acesse o estatuto da pessoa com deficiência.
Além disso, você mesmo pode observar se o local tem um picadeiro extenso e coberto, se o piso é de areia, grama ou um material apropriado, a quantidade de animais, além da higiene e limpeza.
Peça também para assistir a algumas sessões. Fique atento, pois a presença do terapeuta não é a única exigência.
De acordo com Associação Nacional de Equoterapia, é indispensável o acompanhamento do treinador do animal.
Ele deve estar sempre por perto — pode ser apenas acompanhando, segurando as rédeas enquanto o paciente estiver sob o cavalo, ou montado junto com o praticante.
Equoterapia significa uma melhor qualidade de vida?
Como deu para perceber até aqui, a equoterapia proporciona diversos benefícios a pessoas com algum tipo de deficiência, mas é importante lembrar que nenhuma terapia ou tipo de tratamento é capaz de realizar milagres de forma isolada.
É indispensável manter um equilíbrio em todos os aspectos para se chegar ao sucesso, ou seja, alcançar uma melhor qualidade de vida.
Seja qual for a sua limitação, a dica é jamais deixar de lado objetivos e metas. É possível viajar, buscar conhecimento por meio dos estudos e manter uma rotina saudável com uma alimentação balanceada e a prática de esportes.