A pressão estética e a insatisfação constante com a própria imagem é o que leva muitas pessoas a buscarem intervenções estéticas, inclusive cirúrgicas, para modificar sua aparência.
No Brasil, são realizados mais de 1,5 milhão de procedimentos estéticos por ano. Além disso, o país é o líder em cirurgias plásticas entre os jovens.
A decisão de fazer ou não uma intervenção com fins estéticos é algo muito pessoal, e os motivos são os mais variados.
O problema é quando a motivação para a mudança parte de uma pressão estética que vem de terceiros e acaba gerando a necessidade de alcançar um padrão tido como o ideal.
Esse padrão de beleza estabelecido pela sociedade muitas vezes adoece as pessoas – física, e, principalmente, mentalmente, conforme explica a psicóloga Letícia Souza.
“Os parâmetros estéticos deliberados socialmente são elementos condicionantes para o adoecimento mental, visto que as pessoas necessitam das interações sociais e percorrem caminhos para assemelhar-se. Porém, o que é estabelecido socialmente como uma estética aceitável e desejável é incompatível com a pluralidade de corpos, sujeitos e subjetividades.”, afirma.
Segundo a dra. Abdulay Ezequiel, cirurgiã plástica, uma parcela grande dos procedimentos e cirurgias estéticas é buscada como uma tentativa da pessoa de se adequar aos padrões impostos pela sociedade.
“Estamos vivenciando uma verdadeira padronização de resultados camuflada sob o nome de ‘harmonização’. Faces com volumizações exageradas, contornos marcados em demasia, procedimentos na região do nariz com potencial de complicações graves.”, alerta a médica.
“Como cirurgiã plástica, eu enxergo esse assunto com muita delicadeza, porque procedimentos estéticos também têm um grande papel no retorno da autoestima de muitas pacientes e não podemos ser simplistas e acreditar que a cirurgia plástica é algo supérfluo e fútil.”, complementa Abdulay.
“De um lado, precisamos estar atentos às motivações que levam a busca por procedimentos e avaliar se realmente há a indicação solicitada pela paciente. Por outro lado, precisamos acolher nossas pacientes e compreender que a cirurgia plástica pode desempenhar um papel fundamental no ganho de bem-estar e autoestima.”, completa a cirurgiã plástica.
Pressão estética e padrão de beleza
A pressão estética tem a ver com uma pressão social para que as pessoas se adequem, a qualquer custo, a um determinado padrão de beleza.
Esse tipo de pressão pode afetar qualquer pessoa, mas é ainda mais pesado para as mulheres, e, sobretudo, para as pessoas que não se parecem com esse padrão – que, em geral, privilegia pessoas brancas, magras, jovens, com olhos claros e traços finos.
Além disso, a pressão estética muitas vezes vem carregada de preconceitos como o racismo e a gordofobia.
“Pessoas que não se enquadrem às normas sociais se tornam suscetíveis às diversas formas de preconceito e discriminação. Quando elementos como raça e corpo atravessam mutuamente as pessoas, a tendência é a internalização de percepções distorcidas, como por exemplo a inadequação, a insuficiência e rejeição. Sentimentos como culpa, medo, raiva e ódio se tornam comuns a quem vivencia episódios de racismo e gordofobia de forma contínua ou ocasional.”, explica a psicóloga.
Segundo a especialista, o resultado disso são sentimentos como autodepreciação, desvalorização de si e redução da autoestima, o que pode levar a atitudes como se esquivar de interações sociais que exijam exposição.
Quem não conhece uma pessoa que já deixou de ir à praia por sentir vergonha do próprio corpo de biquíni?, compulsão por procedimentos estéticos que gerem mudanças na aparência, uso de substâncias psicoativas para amenizar o sofrimento e a busca infindável por aceitação social.
Essa pressão muitas vezes também leva as pessoas a buscarem procedimentos de maneira pouco segura.
“A sensação de não pertencimento faz com que muitas pessoas, ditas fora do padrão, desejem mudanças no corpo e no rosto com o objetivo de fazer parte do coletivo, de grupos, da sociedade. Isso pode gerar uma busca desenfreada e exagerada por procedimentos [feitos] por profissionais pouco habilitados e em locais com baixa infraestrutura.”, alerta a cirurgiã.