O consumo moderado de álcool por adultos com 40 anos ou mais, que não tenham problemas prévios de saúde, pode beneficiar, incluindo um risco reduzido de doenças cardiovasculares, derrame e diabetes.
É o que aponta um novo estudo publicado na revista científica “The Lancet” no dia 14 de julho. Mas, o que significa uma ou duas doses por dia? Segue o que diz o estudo:
De acordo com o estudo, uma dose-padrão é definida como 10 gramas de álcool puro, como por exemplo:
- Uma taça pequena de vinho tinto (100 ml) a 13% de álcool por volume.
- Uma lata ou garrafa de cerveja (375 ml) com 3,5% de álcool.
- Uma dose de uísque ou similares (30 ml) a 40% de álcool.
No entanto, a revista mostra que há um risco aumentado para a saúde de jovens que usam bebidas alcoólicas em comparação com os adultos mais velhos.
A análise, que relata o risco do álcool por região geográfica, idade, gênero e ano, sugere que as recomendações globais de consumo devem ser baseadas na idade e na localização dos indivíduos.
De acordo com os especialistas, as diretrizes mais rígidas devem ser direcionadas aos homens entre 15 e 39 anos, que estão em maior risco de consumo nocivo de bebidas alcoólicas em todo o mundo.
Detalhes do estudo
Usando estimativas de uso de álcool em 204 países, os pesquisadores calcularam que 1,34 bilhão de pessoas consumiram quantidades nocivas em 2020.
Em todas as regiões do mundo, o maior segmento da população que bebe quantidades consideradas fora do limite de segurança eram homens de 15 a 39 anos.
Para essa faixa etária, o consumo de álcool não oferece nenhum benefício à saúde, podendo apresentar diversos riscos, além de quedas e lesões.
De acordo com o estudo 60% dos casos ocorrem entre pessoas nessa faixa etária, incluindo acidentes automotivos, suicídios e homicídios.
“Nossa mensagem é simples: Os jovens não devem beber, mas os mais velhos podem se beneficiar bebendo pequenas quantidades. Embora possa não ser realista pensar que os jovens adultos vão se abster de beber, achamos importante comunicar as evidências mais recentes para que todos possam tomar decisões informadas sobre sua saúde.”, diz a autora sênior Emmanuela Gakidou, professora de Ciências de Métricas de Saúde do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME, em inglês) da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores analisaram o risco do consumo de álcool em 22 resultados de saúde, incluindo lesões, doenças cardiovasculares e cânceres usando dados da Carga Global de Doenças de 2020 para homens e mulheres com idades entre 15 e 95 anos ou mais entre 1990 e 2020, em 204 países e territórios.
A partir disso, os pesquisadores conseguiram estimar a ingestão média diária de álcool que minimiza o risco para uma população.
O estudo também estima outra quantidade crítica – quanto álcool uma pessoa pode beber antes de assumir um risco excessivo para sua saúde em comparação com alguém que não bebe álcool.
A quantidade recomendada de álcool para pessoas de 15 a 39 anos antes de arriscar a perda de saúde foi de 0,136 dose-padrão por dia (um pouco mais de um décimo de uma dose-padrão, relembre: definida como 10 gramas de álcool puro).
Essa quantidade foi ligeiramente maior para mulheres de 15 a 39 anos com 0,273 dose (cerca de um quarto de uma dose-padrão por dia).
A análise também sugere que, para adultos com 40 anos ou mais sem problemas de saúde prévios, beber uma pequena quantidade de álcool pode trazer alguns benefícios, como reduzir o risco de doença cardíaca isquêmica, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes.
Em geral, para indivíduos com idade entre 40 e 64 anos em 2020, os níveis de consumo seguro de álcool variaram de cerca de meia dose-padrão por dia (0,527 dose para homens e 0,562 por dia para mulheres) a quase duas-doses padrão (1,69 por dia para homens e 1,82 para mulheres).
Para indivíduos com mais de 65 anos em 2020, os riscos de perda de saúde pelo consumo de álcool foram alcançados após consumir pouco mais de três doses-padrão por dia (3,19 doses para homens e 3,51 para mulheres).
As estimativas sugerem que pequenas quantidades de consumo de álcool em populações acima de 40 anos sem condições prévias podem estar associadas a melhores resultados de saúde, particularmente em populações que enfrentam predominantemente uma maior carga de doenças cardiovasculares.
A distribuição da carga de doença para uma determinada faixa etária variou bastante entre as regiões, resultando em diferenças nos riscos do consumo de álcool, principalmente em indivíduos com 40 anos ou mais.
Entre indivíduos com idades entre 55 e 59 anos no Norte da África e no Oriente Médio, por exemplo, 30,7% dos riscos à saúde relacionados ao álcool foram causados por doenças cardiovasculares, 12,6% devido a câncer e menos de 1% devido à tuberculose.
Por outro lado, nessa mesma faixa etária na região central da África subsaariana, 20% dos riscos à saúde relacionados ao álcool foram causados por doenças cardiovasculares, 9,8% por câncer e 10,1% por tuberculose.
Como resultado, os níveis de consumo para esta faixa etária antes do risco de ameaça à saúde foram de 0,876 dose (ou quase uma dose-padrão por dia) no Norte da África e no Oriente Médio e de 0,596 dose (cerca de metade de uma dose-padrão por dia) na região central da África Subsaariana.
No geral, a ingestão de álcool recomendada para adultos permaneceu baixa entre 0 e 1,87 dose-padrão por dia, independentemente da localização, idade ou gênero.
A autora principal do estudo, Dana Bryazka, pesquisadora do IHME, afirma que as estimativas encontradas apoiam diretrizes diferenciadas por idade e região.
“Mesmo que seja adotada uma abordagem conservadora e o nível mais baixo de consumo seguro seja usado para definir recomendações de políticas, isso implica que o nível recomendado de consumo de álcool ainda é muito alto para populações mais jovens. Compreender a variação no nível de consumo de álcool que minimiza o risco de perda de saúde para as populações pode ajudar a estabelecer diretrizes de consumo eficazes, apoiar políticas de controle de álcool, monitorar o progresso na redução do uso nocivo de álcool e projetar mensagens de risco à saúde pública.”, diz Dana.
Risco aumentado para homens jovens
A partir das estimativas, os pesquisadores também foi calcularam a proporção da população que consome álcool em quantidades que excedem esses limites por local, idade, gênero e ano, servindo como guia para direcionar os esforços de controle do álcool.
Entre os indivíduos que consumiram quantidades nocivas de álcool em 2020, 59,1% tinham de 15 a 39 anos e 76,7% eram do sexo masculino, com 1,03 bilhão de homens e 312 milhões de mulheres consumindo quantidades perigosas.
O uso em excesso de álcool foi particularmente concentrado em jovens do sexo masculino na Australásia, Europa Ocidental e Europa Central.
“Embora os riscos associados ao consumo de álcool sejam semelhantes para homens e mulheres, os jovens do sexo masculino se destacaram como o grupo com maior nível de consumo nocivo de álcool. Isso ocorre porque uma proporção maior de homens em comparação com mulheres consome álcool e seu nível médio de consumo também é significativamente maior.”, diz Emmanuela.
Os autores reconhecem algumas limitações no estudo, incluindo que os padrões de consumo de álcool não foram avaliados.
O que significa que o estudo não distinguiu entre indivíduos que raramente se envolvem com embriaguez pesada e aqueles que consomem a mesma quantidade de álcool por vários dias.